Siqueira Assessoria - Finanças, ESG e Capital

Neste episódio do Podcast Gestão Inteligente, Pâmela Siqueira conversou com Isadora Stangelin, e juntas exploraram a importância de traduzir dados de sustentabilidade para torná-los acessíveis e relevantes. Discutiram como empresas podem alinhar sustentabilidade à estratégia de negócios, garantindo impacto real e mensurável. Saiba como comunicar seus resultados de forma clara, evitar armadilhas do marketing verde e focar em ações eficazes.

Isadora Stangelin, possui vasta formação em administração, mestrado e doutorado em inovação e sustentabilidade, além de uma sólida experiência em ESG e comportamento do consumidor, Isadora traz uma perspectiva aprofundada sobre a sustentabilidade nos negócios.

Para Isadora, ESG é mais do que uma sigla; é uma ferramenta para empresas que buscam agir de forma mais sustentável. Embora o termo ESG seja recente, tendo surgido em 2004, a sustentabilidade é um conceito muito mais antigo, que remonta a 1713. Na sua essência, ESG e sustentabilidade representam a gestão inteligente de recursos, a otimização de processos produtivos e um olhar crítico sobre como a empresa opera de forma responsável. Ela enfatiza que, apesar de o termo ESG ter se tornado controverso e muitas vezes ideológico, é crucial desmistificar essas teorias e focar na responsabilidade que cada empresa tem com a sociedade. Agir de forma sustentável, com seriedade e compromisso, é um caminho próspero, enquanto o "fazer por fazer" ou seguir tendências é perigoso.

A importância dos critérios ESG na decisão de investimentos é inegável. O termo ESG nasceu no mercado financeiro, refletindo o desejo de investir em empresas responsáveis. Quando uma empresa adota critérios ESG de forma genuína, ela passa por uma revisão completa de sua operação, abrangendo aspectos ambientais, sociais, de governança, relacionamento com colaboradores, clientes e fornecedores. Isso confere maior credibilidade e segurança aos investidores, que podem confiar mais em negócios com um posicionamento sustentável. Além disso, a adoção de certificações e selos de sustentabilidade aumenta ainda mais essa confiança. Governos e bancos também facilitam o acesso a crédito para empresas que demonstram compromisso com os critérios ESG, mostrando que é um benefício mútuo para a empresa e a sociedade. Embora alguns questionem o futuro do ESG no mercado financeiro, a seriedade na sua aplicação garante maior perenidade ao negócio, pois suas práticas são constantemente revisadas e, muitas vezes, auditadas.

Para integrar práticas de sustentabilidade de maneira genuína, Isadora enfatiza que não existe um modelo pronto para todas as empresas. O ponto de partida deve ser sempre o core do negócio, sua estratégia, valores e produto principal. As práticas de sustentabilidade devem ser implementadas a partir dessa base, garantindo que estejam alinhadas com o propósito da empresa. Começar pela estratégia aumenta as chances de sucesso e evita que as ações se tornem pontuais e sejam esquecidas. O negócio precisa gerar lucro, e a sustentabilidade deve ser vista como um meio de melhorar a efetividade operacional e entregar valor à sociedade, e não como um custo adicional.

Os desafios na sequência da implementação da sustentabilidade são muitos, mas a liderança desempenha um papel crucial. Isadora destaca que o maior desafio reside nas pessoas, não nas práticas. É fundamental que as altas lideranças estejam conscientizadas e engajadas, pois elas serão o motor para superar momentos difíceis. O alinhamento constante da equipe, do propósito e dos valores, reforçando a cultura internamente, é essencial. A cultura de uma empresa, embora seja uma jornada contínua e em constante modificação, pode ser tanto um empecilho quanto a solução para a sustentabilidade. Sem líderes comprometidos, é difícil mudar a cultura e fazer com que a sustentabilidade seja incorporada no dia a dia.

A superação desses desafios passa pelo desenvolvimento humano. As empresas devem ser vistas como escolas, onde as pessoas aprendem e se desenvolvem continuamente. Para Isadora, a interação próxima com os colaboradores, entendendo suas particularidades e pontos de interesse, é mais eficaz do que treinamentos genéricos. Criar vínculos e mostrar como a sustentabilidade se conecta ao trabalho de cada um e como eles podem contribuir é fundamental. Ela sugere a criação de grupos de estudo sobre diferentes temáticas de ESG, permitindo que os colaboradores escolham o que mais lhes interessa e se tornem protagonistas de seu aprendizado. A educação e o acesso ao conhecimento, de forma assertiva e personalizada, são portas de entrada essenciais para a construção de uma cultura de sustentabilidade.

No que diz respeito à comunicação e ao envolvimento com os stakeholders, Isadora ressalta a importância de diferenciar a mensagem para cada público. Um relatório de sustentabilidade, por exemplo, é valioso, mas não é para o consumidor final, que pode se confundir com termos técnicos. É preciso mapear os stakeholders principais e ter uma comunicação adaptada para cada um: clientes, fornecedores, academia, etc. Sentar e conversar sinceramente sobre expectativas e demandas é mais eficiente do que pesquisas extensas. O uso de tecnologia para coletar dados confiáveis e em maior volume é uma tendência, mas é crucial traduzir esses dados para que o público entenda o impacto real das ações de sustentabilidade.

Para finalizar, Isadora oferece um conselho valioso para empresas que estão trilhando o caminho da sustentabilidade: sempre olhar para o core business e a estratégia do negócio. A sustentabilidade deve ser vista como uma gestão de recursos, tempo, pessoas e performance, e não apenas algo para comunicar. Ela enfatiza que "menos é mais" – é muito mais eficaz focar em dois ou três Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e executá-los com excelência do que tentar abraçar os 17 e não realizar nenhum de forma efetiva.